ESPERANÇA GARCIA, escrava que viveu no SEC XVIII no interior do Piauí, foi reconhecida a primeira mulher advogada, por juristas e historiadores brasileiros, que estudaram suas cartas, consideradas uma petição por conter fatos, fundamentos do direito e pedido, onde foram denunciados os maus tratos sofridos pelas mulheres negras.
“Sou escrava da administração do capitão Antônio Vieira de Couto. Ele me tirou da Fazenda dos Algodões, local onde vivia com meu marido para trabalhar de empregada doméstica. Aqui não passo bem. O primeiro dos grandes sofrimentos é que meu filho sofreu muitas pancadas e é apenas uma criança. Chegaram a tirar sangue dele pela boca. Já comigo, não consigo nem explicar, mas para eles pareço um saco de pancadas, tanto que caí certa vez de cima do sobrado. Só escapei pela misericórdia de Deus. Já a segunda é que estou com meus pecados para confessar há três anos e mais três filhos para batizar. Peço pelo amor de Deus que olhe por mim e peça ao procurador para que me mande de volta para a casa de onde me tiraram do lado do meu marido e da minha filha”.
De V.Sa. sua escrava, Esperança Garcia.
Em carta escrita a punho, Garcia denuncia maus tratos — Foto: Reprodução/TV Clube