Armando Marcondes Machado Júnior nos deixou no último 1º de fevereiro, aos 94 anos. O Brasil perdeu uma de suas grandes figuras humanas e a advocacia pública o mais batalhador e entusiasta de seus membros. Procurador do Estado de São Paulo, organizou sozinho o primeiro Congresso Nacional de Procuradores do Estado, presidiu por várias gestões a Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo, fundou a União Estadual de Procuradores do Estado de São Paulo – UEPE e o Sindicato dos Procuradores do Estado de São Paulo – SINDIPROESP. Após aposentar-se, chefiou por décadas a Consultoria Jurídica da CONAM – Consultoria em Administração Municipal, formando mais de uma geração de advogados públicos de escol.
Conheci o Armandinho, assim o chamavam os amigos, no final da década de 1970, quando ainda chefiava a Procuradoria de Assistência Jurídica aos Municípios da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, órgão de renomado prestígio à época, que reunia a elite da PGE dedicada ao Direito Público, e era frequentada pela maioria dos Prefeitos Municipais e gestores públicos paulistas e de outros estados. Ao mesmo tempo Armando presidia a UEPE, da qual cheguei a ser um dos membros e onde, no final da década de 1980, tive a felicidade de reunir importantes novas lideranças que deram origem ao Grupo Oposição Unida, que participou ativa e vitoriosamente de várias eleições da PGE/SP.
Com a sua aposentação, Armando foi organizar e chefiar a Consultoria Jurídica da CONAM, onde tive a felicidade de ter sido, desde o início, um dos primeiros de seus fiéis escudeiros. Tanto foram os incentivos do Armandinho que tornei-me Procurador do Estado de São Paulo, Carreira na qual aposentei-me como Corregedor Geral há duas décadas.
Eu poderia continuar a discorrer longamente sobre o amigo relembrando passagens com ele vividas, mas vou encerrar esta homenagem trazendo a você um acróstico e um soneto que dediquei ao amigo ao longo de nossa extensa e profícua convivência, e que resumem de forma singela a minha profunda admiração e meu inquebrantável respeito, por esta figura ímpar que foi o Armandinho.
ARMANDO – acróstico
Amigo, nesta data eu te festejo,
Recordando e augurando mais labuta.
Muita ou pouca tua faina é resoluta,
Alentada e pertinaz, com descortino.
Nossos rumos se cruzaram, foi destino;
Demos forma a alguma coisa presumida.
Onde há um ideal, estás sem pejo.
Mão à obra! A caneta vai, perscruta
Arquitetando ideias a mente se orienta.
Remexe, busca, arquiva e sedimenta,
Construindo conclusões de forma arguta.
Onde anda o homem está a companheira e
Na Márcia tens a paz que te energiza;
Dedicação e amor que embala a vida.
Em essência, és valor indispensável.
Sempre serás, para nós, razão e lume.
Muito gostas de ir ao campo, companheiro.
Atibaia é o teu refúgio domingueiro; e
Corinthiano, desvairado e por inteiro,
Hás de por terno e gravata e ser goleiro
Ao sentir o adversário mais faceiro
Dar trabalho ao teu querido alvinegro,
Obrigando-te a um esforço derradeiro.
Júnior no nome, gigante na bravura,
Ungido em total simplicidade,
Nosso parceiro é só tenacidade,
Independência, garra e doçura.
Onde, hoje, se constrói e se batalha
Recebemos do Armandinho a estrutura.
São Paulo, aos 10 de agosto de 1994.
EPITÁFIO PRO ARMANDINHO
Quando um amigo se vai, parte de nós o acompanha.
Sua falta aqui fica, sempre viva na lembrança.
Aguerrida, sua mente viu nas lutas esperança,
granjeando pela vida admiração tamanha.
Aquele que sempre terçou dignidade, direitos,
deixa em nossa memória lições de perseverança;
e, das coisas que se sonha, muitas delas só se alcança,
se um amigo do peito nos guia pelos estreitos.
Me senti apreensivo, abatido, amargurado,
quando soube que o guerreiro, que venceu tantas batalhas,
nos deixou órfãos da garra do combativo soldado.
Guardo, porém, alegrias que ao seu lado vivi.
Sinto falta do amigo, mas amizade não finda.
Armandinho foi exemplo de vida, que eu segui.
São Paulo, 1º de fevereiro de 2019.
Para o amigo Armando Marcondes Machado Júnior, do fiel escudeiro
Paulo Von Bruck Lacerda.
