São mais de 30 anos de luta, período em que foram registradas as grandes conquistas da Carreira
Fortalecer a Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo, que no início existia apenas no papel, foi a missão que Armando Marcondes Machado Jr. tomou para si ao assumir pela primeira vez a presidência da entidade, em 1962. “A Associação não existia mesmo, não tinha sequer uma sala.”
E a representação dos Advogados Públicos do Estado de São Paulo saiu, nas mãos de Armando, do papel diretamente para as ruas. Literalmente.
Nível Universitário
A estratégia para dar força ao movimento pelo nível universitário revelou o poder de articulação que viria a marcar a ação sindical de Armandinho. “Naquele tempo se falava em dar nível universitário para os advogados, os engenheiros e os médicos, as três carreiras clássicas do Estado. A luta era por uma gratificação de 40%”.
“Como greve de advogado não incomoda ninguém, o importante era parar os engenheiros. Fiz um discurso para uns 700 engenheiros, na sede do Instituto de Engenharia, e propus que, em caso de greve, os Advogados do Estado não fariam os processos contra eles. Como resultado da proposta os engenheiros entraram em greve e paralisaram as atividades do Departamento de Obras”.
“Quando o governo começou a demitir os grevistas nós passamos, publicamente, a recusar a receber os processos e a tocar qualquer ação contra os engenheiros”.
“A situação transformou-se em um grande problema para o governador Carvalho Pinto. Fui chamado ao Palácio e o Hélio Bicudo, em nome do governador ligou para o diretor do DAP (Departamento de Administração de Pessoal, hoje Departamento de Recursos Humanos) e avisou que eu estava indo para lá com outro colega, o Theo Escobar, para acertar o nível universitário para as três carreiras”.
“Obtivemos a concessão do adicional de nível universitário e a greve terminou”.
Lei Orgânica da Procuradoria
A segunda batalha pretendia dar status constitucional à Carreira. Até 1967 a Procuradoria chamava-se Departamento Jurídico do Estado. Com a introdução da Procuradoria na Constituição, institucionalizava-se pela primeira vez a Carreira. O episódio mais uma vez teve à frente o Colega Armando Marcondes Machado Jr.
“A Constituição de 67 teve um aspecto diferente: estávamos sob a ditadura militar e ela foi rascunhada pelo Executivo estadual, não nasceu no Legislativo. Quem a minutou foi o prof. Hely Lopes Meirelles. Fomos até o Dr. Hely, que concordou com a nossa reivindicação, entendendo que se tratava de uma questão importante, e garantimos, pela primeira vez na Constituição Paulista, um capítulo sobre a Procuradoria do Estado. Foram 4 artigos, do 47 ao 50, no capítulo Da Procuradoria Geral do Estado. A Instituição mudou de nome e foi elevada a nível de Constituição”.
Desconto em folha
Fortalecer a entidade que representava os Procuradores, agora com amparo constitucional, foi a nova tarefa para a segunda (1968) e terceira (1969) gestões de Armandinho à frente da Associação. “Para fazer isso precisava de dinheiro. Seria muito importante para a Carreira se a contribuição para a Associação fosse descontada diretamente em folha. A medida facilitaria a organização da Carreira e contribuiria para o seu aperfeiçoamento. Os contatos junto à Secretaria da Fazenda tornaram possível o desconto da mensalidade em folha”.
Para que se entenda o significado dessa conquista é preciso recuperar, pelas próprias palavras de Armandinho, a situação financeira da entidade antes desse decreto: “Como não tínhamos contribuições regulares, no dia do pagamento eu ia na porta da Procuradoria e pedia aos colegas a contribuição para a Associação. Eles tiravam uma nota da carteira e davam o que queriam”.
“Com o desconto em folha houve um avanço espetacular. A contribuição era pequena, mas já éramos 500 à época e deu para contar com um orçamento regular. Quem não quisesse contribuir era só pedir sua exclusão”.
Sede independente
ra chegado o momento de cortar o cordão umbilical e tirar a Associação da sala do Procurador: “Até então a Associação ocupava uma sala na PGE. A secretária, Dona Vanda, era secretária do Procurador Geral e da Associação. Quando eu queria mandar um ofício para o Procurador Geral, eu ditava para ela, que redigia e entregava a ele, que ficava na sala ao lado”.
“Por isso posso dizer que a Associação, como instituição autônoma e independente, nasceu no dia 18 de janeiro de 68. Alugamos uma sala, pequena, mas suficiente para fazer dela um órgão de classe independente”.
O apoio a Armandinho para um novo mandato à frente da Associação, em 68, foi uma resposta a sua ação que bloqueou um projeto de reforma da PGE que tramitava na Assembléia Legislativa, sem conhecimento de ninguém. “Era um projeto muito ruim e a Associação sequer tinha conhecimento dele. Chamei os colegas e convocamos uma assembléia geral da Associação. Toda a diretoria da Associação renunciou ao mandato. Quando o Procurador Geral soube da minha atuação em oposição ao projeto, eu fui descomissionado do cargo que ocupava na Assembléia Legislativa e transferido para o interior: colegas foram ao governador e impediram essa transferência. E a Carreira se reuniu e me elegeu presidente”.
Sorte Grande
Esses primeiros momentos de independência tiveram seu preço e mais uma vez espírito de luta, agora aliado a uma boa dose de sorte, viabilizou os dias iniciais da Associação. “Fomos para uma sede alugada na rua José Bonifácio, em frente à Livraria Saraiva. Mas o espaço, embora pequeno, precisava ser mobiliado. Idealizei a rifa de um fusca, com mil números, para levantamento de fundos visando aparelhar a sede”.
“Vendendo todos os números, seriam apurados aproximadamente 13 mil cruzeiros. O carro custava dez mil e o restante seria aplicado nas instalações da sede. Vendemos todos os números e reservei dez, que enviei ao gabinete do Procurador Geral. A rifa ia correr pela Loteria Federal no sábado. Na sexta a noite o gabinete do Procurador Geral me devolveu seu envelope, com os dez números. Fiquei arrasado. E eu não tinha dinheiro para comprá-los”.
“Decidi que a Associação participasse do sorteio concorrendo com os números encalhados. E o primeiros prêmio saiu para a Associação. Ficamos com 13 mil em caixa e não 3 mil cruzeiros”.
A carteira de Procurador foi a segunda vitória na terceira gestão. Naquela época só tinha carteira com distintivo juiz e promotor. Foi um ato do Secretário de Justiça, em 1969, decreto de 15 de abril de 1969.
O passo seguinte foi a organização do Congresso Nacional dos Procuradores do Estado (texto na pág. 3).
Foi em 1971 que Armandinho organizou a revista da PGE. “Quando eu soube que o Procurador Geral queria lançar a revista, disse a ele que não precisava pagar ninguém, destinar verbas, criar cargos. Era só arcar com as despesas gráficas que a Associação se responsabilizaria pela revista. E fizemos cinco números. Foi um outro marco importante. Passou a ser distribuída entre os colegas, e até para outros estados. Com isso fomos entrelaçando mais a Advocacia do Estado em âmbito nacional, que era a nossa grande meta”.
Eleição difícil e o jantar da vitória
Sua última gestão, em 73, veio acompanhada de novo êxito: a aquisição da sede própria da Associação. “Foi uma eleição difícil: toda a PGE se uniu contra mim. Tive 73% dos votos (430 votos), elegendo todos os companheiros. A Associação era dirigida por 15 membros do Conselho, que elegia o presidente. Como estavam renovando 5 e eu já contava com apenas 3 companheiros no Conselho, a única chance da minha chapa assumir a presidência era elegendo os cinco membros. E a situação contava com o apoio do Procurador Geral e teria maioria no Conselho elegendo apenas um nome”.
“Mas como eles contrataram o jantar da vitória antes da eleição, aquilo feriu meus brios. Eu me transformei em dez; fui à luta e falei com todos os Procuradores do Estado. Quando terminou a apuração, às 3 h da manhã, ligaram para minha casa informando que eu tinha conseguido eleger-me, juntamente com os quatro companheiros da chapa”.
O Centro de Estudos e a verba honorária
Ainda na última gestão à frente da Apesp Armandinho e seus companheiros lutaram pela aprovação da Lei Complementar 93. “Essa lei tinha duas coisas: o Centro de Estudos e a verba honorária para o Procurador. Essa foi uma luta que consumiu com as minhas forças. Foi um ano inteiro”.
“Para se aprovar uma lei naquele tempo o projeto, antes de ser remetido à Assembléia, tinha que passar pela Comissão da Paridade, formada por 2 representantes do Executivo, 2 do Legislativo e 2 do Judiciário. Qualquer projeto de lei para funcionário tinha que passar por esta Comissão. E o projeto, que tinha o apoio do Procurador Geral, foi derrotado por 6 a 0 na Comissão de Paridade”.
“Fui ao Procurador Geral e pedi a ele que deixasse a Associação encaminhar a proposta pela segunda vez. Visitei cada um dos membros da Comissão da Paridade, discutindo a questão”.
“A verba honorária foi aprovada, passou na Assembléia, como Lei Complementar 93, também consagrando o Centro de Estudos”.
“Essa é a história da nossa luta para que a Carreira chegasse ao que é hoje. E depois disso, nos últimos 25 anos, não aconteceu mais nada de significativo. O que existe hoje é resultado daquela luta: o mandamento constitucional, a revista, o Congresso e a verba honorária”.